A difícil arte de conviver

Lá pelos meus 18 anos[isso já faz um tempinho], fui aprovada no vestibular para Letras da então UFPB-Campus Campina Grande, e como meus irmãos já moravam aqui, minha mãe não hesitou em me "deportar".
No início, imaginei que meu maior proveito seria o acadêmico, mas estava enganada. Hoje percebo que foi a experiência de vida, particularmente, o aprendizado da difícil arte de conviver bem(?).
Minha primeira moradia foi num apartamento só de estudantes(a maioria homens), dentre eles dois irmãos e quatro primos. Vocês já devem imaginar a badeeeeeeeeerna: louça de três dias sem lavar, já criando larvas rs, pirâmide de papel higiênico no cesto, teias de aranha pra todo canto, o cheiro acre de roupa masculina suja, mas inúmeras, incontáveis risadas por dia e muito aprendizado.
Comecei a compreender como funciona a cabeça masculina, a me graduar em todas as formas possíveis e INimaginágeis de como-enrolar-uma-mulher e, para meu desespero: que a maioria dos homens sinceramente não se importam se habitam um ambiente cheiroso e limpinho ou um antro de sujeira. 
Mas aprendi também que conviver com homem é muito menos complicado do que conviver com mulher[eu tenho propriedade para dizer isso hehe]. Tenho lembranças divertidíssimas. Volta e meia me pego rindo dos dias hilários de futebol na tv e mais ainda, da pirraça no dia posterior, com os desenhos antológicos de Acácio, colados na geladeira, no espelho do banheiro, na porta do guarda-roupa, em todo lugar; de como transformávamos uma simples ida ao supermercado num verdadeiro acontecimento; da cena típica nos dias de lavar roupa: litros de 51 e Zezé de Camargo e Luciano na vitrola; da "rede" de vôlei ou do ping-pong no meio da sala; das senhas pornográficas que tínhamos que gritar ao interfone para que o portão fosse aberto; das resenhas de George ao final do dia; do português inigualável de Raulzão ("Gente, esse mês nós gastamos muito "impulso" no telefone", "...é aquela cerveja "hakkinen" hehe); da porta solta da geladeira e das pegadinhas que fazíamos com as visitas; das incontáveis namoradas de Rafael Monferdini(ops, foi mal, Rafa); do pavor de assombração de Eltinho, da mensagem do além(?) no teto do quarto e de tudo o que aprontávamos com ele por causa disso... Nossa fama era tão grande na UFCG que uma revista de alcance nacional fez uma reportagem com a gente :P 
Ao longo de doze anos, morei com meus irmãos e sobrinho (num apartamento todo limpo e organizado);  dividi apartamento, morei de favor, em pensionato, sozinha, voltei a dividir ap., fui embora pra Bahia, voltei para Campina Grande, morei só e hoje moro com meus dois primos queridos Bruno e Vítor.      
E foi justamente em razão dessa diversidade de experiências que eu aprendi que nem tudo sai como eu quero, ainda que eu me chateie por isso; que "o outro" tem suas manias, defeitos, mas também tem suas virtudes e que é preciso respeitá-lo em TODOS OS MOMENTOS, que cada um tem seu tempo; que mudança é um saco!; que nenhuma convivência é perfeita e que sem harmonia ela se torna impossível.
Aprendi muito sobre os outros, mas principalmente, aprendi muito sobre mim: sou sutilmente persuasiva, não funciono sem dormir e comer bem, pessoas negativas me adoecem, tenho verdadeira ojeriza, isso mesmo, ojeriza por pessoas mesquinhas; minha obsessão por limpeza diminuiu consideravelmente porque a faxina não dependia só de mim ou porque durante o mestrado ou eu estudava ou executava as tarefas domésticas, pois elas parecem se vingar da gente, nunca acabam!
sou prática a ponto de realizar mil coisas simultaneamente[Amanda que o diga], sou abestalhadamente prestativa, a ponto de renunciar um benefício próprio para ajudar o outro e que sou uma inconsequente nas finanças. :D
E mais: adquiri uma independência assustadora. Hoje faço compras, arrumo casa, cozinho, lavo, passo, troco resistência de chuveiro, aperto parafuso, coloco cortina, pago contas, vou ao médico, faço revisão de carro etc. etc. etc. Acho que é por isso que quando peço um favor a alguém e não sou atendida de imediato, vou lá e faço. O problema é que a pessoa solicitada pode entender que me aborreci, mas, a meu ver, é só uma questão de praticidade.
A partir de janeiro de 2012 irei dividir não apenas o-mesmo-teto, mas as alegrias, dívidas, tristezas, tarefas... os sonhos, os filhos com o homem que eu amo e sei que igual a todas as outras, a convivência não será perfeita, no entanto, espero profundamente que eu saiba usufruir de todo esse conhecimento acumulado ao longo dos 12 anos em benefício de uma moradia de, no mínimo, 50!           
     
Se sou de fácil convivência ou não, só quem morou comigo poderá responder. 

Laura Dourado Loula

Obs.: Dé, adivinha em quem eu pensei quando vi esse desenho do cara fritando ovo? hehe