Parabéns ao Dr. Dé!

Hoje é o níver do meu amado irmão. Como estamos geograficamente distantes e eu não tenho grana para enviar um presente à altura, aqui estão meus modestos rabiscos:     

A história desse Doutor quase não seria possível de escrever...
Nasceu prematuro, com apenas sete meses; fraquinho, indefeso, cabia numa caixa pequena de sapato. Mas vingou. Quer dizer, sobreviveu aos primeiros meses, porque quando estava com três teve hérnia e, numa noite sem energia em João Dourado, sentaram nele, isso mesmo, um homem sentou naquele projeto de gente, que estava deitado no sofá da sala e a hérnia estrangulou. Levaram para Irecê, num Jipe, para sua primeira cirurgia e ele resistiu mais uma vez.
No momento do registro de nascimento, um funcionário chamado Júlio, por pura vaidade, registrou que "a criança" tinha nascido no mês de juLHo, pela proximidade sonora com seu nome, ao invés de juNHo, mês que de fato nasceu (15/06).
Na infância, foi mais costurado que a boneca Emília. Pontos e mais pontos na testa, queixo, joelho, pé...nada para George era normal. Num São João, brincando de pular fogueira com os amigos, um colega o empurrou fora de tempo e um saco plástico derretendo grudou em sua perna.
Foi a única pessoa que eu tive notícia que levou uma injeção de lama e não morreu de gangrena, tétano ou coisa parecida. Foi também a única pessoa que ao pular pra tocar uma placa de coca-cola, na descida, escorregou, caiu por cima do braço e quebrou. Era normal? 
E porque nada para ele era normal, todos os irmãos e primos já tinham ido ver a colheita de feijão no Norte, menos George. Mainha querendo ser justa e achando que ele tinha maturidade suficiente para não aprontar, permitiu que ele fosse. Resultado: voltou para casa pouco tempo depois porque tinha colocado a mão na máquina de bater feijão e quebrado o dedo.
Árvores, muros de prédio, caixas d’água não simbolizavam alerta de perigo, mas sim obstáculos a serem superados. Lembro-me muito bem que certo dia, num muro de mais ou menos 7 metros de altura, da "finura"(baixou o Jessier Quirino) de um bloco em pé, quando ele corria pelo muro pra mostrar suas habilidades circenses aos irmãos-espectadores, mainha chegou bem na hora, viu a cena e ficou branca, muda, quase desmaiou de susto, fechou os olhos para não ver o pior. Em outra oportunidade, nesse mesmo muro que separava nossa casa do supermercado, não sei qual dos irmãos teve a brilhante ideia de fazer “carinhas” com pedaços de vergalhão nos blocos sem reboco; fazíamos os olhos, o nariz, a boca e...- não, não deu certo, vou fazer outra. E assim fizemos várias vezes até que num talho mais profundo, o vergalhão varou o bloco e os produtos que estavam na prateleira do supermercado se espatifaram no chão. Pense em 4 crianças mudas, anjos, que se entreolhavam com a cumplicidade que poucos irmãos têm. Aliás, um dos maiores orgulhos que tenho de meus irmãos é que íamos os 4 pro castigo(um em cada canto da sala, virado pra parede e proibidos de falar, quer dizer, George de vez em quando falava e fazia careta pros outros rirem) mas nunca, nunca mesmo, entregávamos um ao outro.         
Mainha também conta que em época de dificuldades financeiras, ele miudinho, colocava caixa de pipoca, geladinho(din-din) na cabeça e rumava pro campo de futebol para ajudá-la na venda.
Nos circos que fazíamos no quintal de casa, George era o dono da banca dos jogos de azar, astuto que já era pra fazer conta de cabeça. Engraçado que o dinheiro no circo era embalagem de cigarro, quanto mais caro o cigarro, maior o valor da “cédula”.
Dos quatro irmãos, três nasceram com os dentes no lugar, a acarda dentária perfeita, só um que não...adivinha quem? George, claro! Teve de usar aparelho fixo, móvel, o famoso "frei-de-burro" como ele mesmo batizou e enfim, eh, os dentes ficaram melhores...rsrs
Sempre popular, foi apelidado de Dé, pulguinha, manezim-barriga-suja, esquilo, puta magra(ui, foi mal por essa)...Mas como isso aqui é uma crônica e não um romance, terei de pular para a fase adulta. 


George prestou vestibular para Computação na UFCG e levou pau duas vezes porque zerou história. Não passou para Computação, mas passou para as segundas opções: matemática e física, respectivamente. Como quem não queria nada, foi cursando os dois e logo se identificou com física e deixou a matemática de lado. Mais lá na frente, tinhoso que só ele, prestou vestibular para Computação novamente e, dessa vez, foi aprovado. Mas a paixão pela física já o enebriara e ele desistiu do que achava que seria sua prioridade. No Departamento de Física foi bolsista do CNPQ por dois anos e meio, fez amigos, e, principalmente, fez história. Como se não bastasse ser o único formando de física naquele semestre, recebeu o prêmio Átila Almeida, por ser o aluno com melhor rendimento acadêmico dentre os formandos de toda UFCG naquele semestre. E o seu sucesso acadêmico só começava. Foi aprovado para o mestrado na UNICAMP em 1º lugar e ele só queria uma posição que garantisse sua bolsa.
Do mestrado passou direto para o doutorado na própria UNICAMP e daí para editor-chefe da revista de física do Instituto Gleb Wataghin (eu tenho ódio porque a pessoa além de ser gênio em exatas ainda é um exímio escritor e eu não tenho exclusividade em absolutamente NADA na família), até chegar a professor substituto do departamento.
De férias em João Dourado, em um dia tranquilíssimo, quando estacionava o carro próximo a uma quadra de esportes, foi abordado por dois marginais que levaram-no junto com o carro e o liberaram num lugar ermo, próximo à BR. Parece até mentira, João Dourado, uma cidade com pouco mais de 20.000 habitantes, no interior do interior do interior da Bahia George foi raptado. Mas esse episódio terrível proporcionaria a ele, no resgate do carro roubado, uma das melhores surpresas da sua vida: o começo de sua história de amor com Carol.    
E como se tratava de George, ainda passou por alguns apuros em São Paulo com a vida por um fio, porém, como esse não é o foco do texto, não me deterei aqui em lembranças dolorosas. Nosso Pai o livrou do pior, sempre!
Do doutorado direto para o concurso do IFPE(Petrolina). A essa altura nem precisa dizer que ele foi aprovado em 1º lugar, né?! E é no IFPE que ele exerce com maior excelência seu papel de Lineu(Grande família), carrasco não...
Seu casamento foi incrivelmente normal, já sua lua-de-mel...George e Carol saíram de Salvador com destino à Argentina numa segunda-feira pela manhã. Se empolgaram tanto que esqueceram de avisar às duas famílias que tinham chegado em paz...e passou a segunda, terça, quarta e nada de notícias...na quinta, eu já tinha contactado com a embaixada brasileira em Buenos Aires, ligado para TAM, Infraero... estava no posto da polícia federal da Avenida Brasília para entregar a documentação autorizando a quebra de sigilo pela polícia federal Argentina...os irmãos de Carol (diga-se de passagem a irmã mais nova e única mulher de um total de 5 irmãos) já estavam a caminho de Salvador, onde pegariam o avião para Argentina e pior, já tinham bloqueado o cartão de crédito internacional de George, por suspeita de roubo, sequestro etc. 
Mas voltemos à bendita quinta-feira: algum filho-de-Deus teve a brilhante ideia de acessar o notebook de George, que, por sorte, estava no apartamento de um dos irmãos de Carol em Salvador, e, como ele havia salvo os tickets de voo e as reservas do hotel, localizaram "os foragidos"... Imaginem a cena: um funcionário do hotel bateu na porta da suíte até acordá-los e avisá-los do nosso desespero. Agora eles tinham um problema: como pagariam o hotel com o cartão bloqueado? E se eles tivessem comprado produtos além do permitido pela alfândega, com a polícia federal no rastro deles, como passariam? Ao final, enfim, resolveu-se tudo...Na época tive vontade de escrever essa história para Ana Maria Braga ou qualquer coisa do gênero e me "vingar" com a SUPERexposição, que ele tanto detesta :P           
Do menino que não terminou de nascer, que carregou caixas de lanche na cabeça, para o Dr. George, um dos poucos em física da Bahia, para o professor concursado de um Instituto Federal, que, tenho certeza, é apenas o primeiro degrau de sua trajetória de sucesso. 
Para uma pacata cidade do interior, e por que não dizer para a microrregião de Irecê, é, sem dúvida, o orgulho intelectual Dr. George Loula, mas para os-de-casa é o menino que, FELIZMENTE, não cresceu, aquele que não permite que o sorriso se desfaça em nosso rosto, que transmite amor pelo olhar, pelos braços, por todos os poros... é o nosso Dé. Está sempre no topo da lista dos 5 seres humanos mais admiráveis que eu conheço.
Eita, agora deixa eu ir ali enxugar a baba que tá escorrendo...hehehe

Felicidades, meu irmão!
Que Deus continue te protegendo e te abençoando!
Te amo demais ;)