Galera, nesse post e no de Paris vou relatar as coisas mais
improváveis dessa viagem. Vocês acreditam que Marcus foi assaltado na Alemanha?
Pois é, saiu de Campina Grande para ser roubado em Bremen. Mais adiante
contarei os detalhes desse episódio.
A Alemanha é fria, nos dois sentidos: o clima e o seu povo.
O fato de sairmos da Itália direto para a Alemanha acentuou ainda mais essa
diferença. Já entramos no país um pouco
apreensivos por não saber falar absolutamente nada de alemão e por saber que Bremen não é propriamente uma
cidade turística. Não há a opção de alemão e inglês, por exemplo. Tudo estava
escrito no idioma local. Minha angústia era tamanha que tudo eu interpretava
como um indício de que algo daria errado. No voo de chegada já achei estranho
porque vi uma cordilheira com neve, sol de um lado do avião e escuro total da
noite do outro. Nunca tinha visto neve na vida muito menos noite
e dia ao mesmo tempo, pensei logo “vou morrer, é um sinal” kkkkkkk Brincadeira,
gente, não sou tão negativa assim, foi só pra dar um draminha ao texto.
Chegamos no aeroporto de Hamburgo às 19:20h. com um tempo
apertadíssimo para pegar o metrô, chegar na estação e pegar o ônibus pra Bremen
às 20:30h. Ou seja, tínhamos uma hora e dez minutos fazer todo esse
percurso e é claro que deu errado. O aeroporto é gigantesco, milhares de voos
sendo operados... nossas malas só chegaram na esteira às 20:05h. Nosso maior receio era justamente saber se dormiríamos na estação de ônibus, se seríamos presos por dormir lá, etc. Pela demora das malas, já desistimos da
passagem de ônibus que havíamos comprado, ainda no Brasil, e compramos uma
nova, de trem, direto para Bremen. Mas eu não posso deixar de comentar as
nossas caras quando chegamos no guichê eletrônico para comprar os novos
tickets. Deu vontade de rir, mas um riso de aflição: não conseguíamos atribuir
significado a nenhuma palavra escrita ali. Não sabíamos o que era ticket, nem
para qual estação compraríamos, muito menos se estávamos comprando dois ou dez
tickets. A sorte foi que um filho-de-Deus viu nossa agonia e se ofereceu para
ajudar. Já na entrada do metrô outro episódio engraçado: Marcus explicou em
inglês a nossa pretensão e perguntou ao fiscal em qual estação deveríamos
descer. O fiscal respondeu, mas quando entramos no metrô e olhamos os nomes das
estações nada batia com o que ele havia pronunciado. Marcus voltou ao fiscal e
pediu que ele entrasse no vagão e apontasse no mapa o nome da estação. O fiscal
entrou no trem, repetiu o nome, apontou e riu, achando graça dos analfabetos.
Depois de alguns percalços chegamos à estação de Bremen. Logo
em seguida, avistamos Rodrigo entrar pela porta principal. Nunca ficamos tão
felizes em ver Rodrigo. Era nosso escudo e nossa espada! De lá, direto para o
hotel. Já na entrada sentimos o peso de não compreender o alemão. Não havia
recepcionista. Quando apertamos na campainha, alguém de uma central atendeu e
perguntou em alemão qual era o nome do hóspede, o número da reserva e em qual
endereço nos encontrávamos. Ninja serviu de tradutora e passou todas as
informações. Depois, essa mesma pessoa, de lá mesmo da central, destravou a
porta, disse o número do quarto e informou que a chave estava pendurada num
porta-chaves na entrada. Se não fosse pela presença de uma tradutora,
estaríamos ao relento, na rua. Deixamos as malas e fomos perambular pelas ruas
geladas da Alemanha. “Forramos o bucho” e entramos num pub para beber uma
cerveja. Conhecemos um mineiro muito pirado e encontramos um lugar para sentar.
Resultado: chegamos em casa às 4 da manhã.
No dia seguinte, o termômetro marcava seis graus em pleno
meio-dia e nós inventamos de andar pelas redondezas antes de Rodrigo chegar
para o jogo do Bayer. Rapaz, sabe aquela fumacinha que sai da boca de tanto
frio quando a gente fala? Pois era exatamente assim que estava nesse dia. Pense
num passeio sem futuro! Como não havíamos tomado café e já era meio-dia, estávamos
com fome, olhamos vários cardápios dos restaurantes, mas não entendíamos
absolutamente nada! Não sabíamos se o que estava escrito se tratava de carne,
pasta, peixe, enfim... O jeito foi tirar fotos com o celular, enviar por
Whatsapp para Rodrigo e esperar a tradução. Depois de muita luta, conseguimos
comer alguma coisa, voltei para o hotel, me enrolei em 25 cobertas e os
‘homens’ foram ver o jogo do Bayer.
À noite, fomos jantar num restaurante medieval em que as
carnes eram servidas numa espada. Um lugar incrível e um jantar delicioso. Saindo
de lá, fomos à festa da cidade, algo parecido com uma quermesse e foi
justamente a uns 50 metros de chegar na festa que Marcus foi assaltado. Do
nada, um rapaz – provavelmente imigrante pelas suas feições – começou a
empurrar Marcus, como se estivesse dançando, e a dizer em voz alta frases
incompreensíveis. Em alguns milésimos de segundo ele havia retirado o celular
do bolso e dado ao seu comparsa. A noiva de Rodrigo, ao ver a cena,
imediatamente comentou: “Eu acho que ele te roubou”. Quando Marcus colocou as
mãos sobre os bolsos confirmou o que ela suspeitava. O ladrão havia levado o
celular. Ficamos atônitos! Como assim, ser roubado em plena Alemanha? Marcus
lamentou muito mais pela perda de comunicação com todos pelo resto da viagem e pelo aplicativo que estava nos ajudando muito do que necessariamente pelo prejuízo
material. O celular dele já tinha mais de três anos de uso e ainda por cima é
de uma marca da china, praticamente desconhecida no Brasil. Lamentou e queria deixar
por isso mesmo, mas Ninja não aceitou. Discou para a polícia e começou a
relatar o fato ainda no local. E não é que o safado do ladrão voltou e devolveu
o celular em mãos?! Ele percebeu que estávamos ligando para a polícia e que
seria bem pior para ele já que provavelmente vivia de forma ilegal no país. E cá pra
nós, deve ter olhado a marca o celular, o display trincado, o bichinho todo
arranhado e deve ter pensado: ‘Eu quero lá essa merda?! Vou devolver que é mais
vantagem para mim.’ Dirigiu-se a nós e disse algo do tipo: ‘Olha aqui, acho que
esse celular é seu.’, na maior cara de pau!
Ainda sem digerir aquilo tudo, seguimos para a festa da
cidade e relaxamos um pouco. Uma cerveja aqui, outra ali, um vinho quente, até
o momento em que um cara se aproximou da noiva de Rodrigo e deu em cima dela.
Genteeeeeee!!! Rodrigo, na maior tranquilidade, apenas explicou que ela estava
acompanhada por ele, o noivo. Depois dessa, pensei alto ‘é melhor irmos pra
casa dormir’... caímos na gargalhada, aliviando a tensão.
Mas eu não me dei por satisfeita e disse que queria andar de
montanha russa, de dois loops. Embora receosos de passar mal por termos comido
muito no restaurante medieval, fomos os quatro. Na fila, estava ventando muito
e o frio já começou a tirar minha coragem. Mesmo assim, insisti. Quando entrei
no carrinho e coloquei a trava não me senti segura: “Esse negócio
não vai me segurar quando eu ficar totalmente de cabeça pra baixo”, mas eu
havia inventado aquilo e não podia amarelar, mas minha gente, quando o carrinho
começou a subir até o ponto mais alto eu só pensava: ‘que merda foi essa que eu
inventei?’, ‘Moço, dê ré que eu quero
descer’, ‘Ei, era na brinca, e não na vera’... Como não havia mais tempo para
nada, agarrei na trava como se fosse morrer e fechei os olhos, desesperada.
Terminados os dois loops achei que poderia relaxar, mas o carrinho ganhou
ainda mais velocidade, fez uma curva fechada pra direita, outra pra esquerda,
foi não sei aonde, até que, enfim, parou. Eu saí com o sorriso amarelo, mas com
toda a pinta de que tinha a-do-ra-do aquilo. Olhe, vou te contar, eu não tenho
um pingo de juízo!
No último dia, andamos pela cidade, comemos as típicas linguiças
alemãs numa barraquinha de rua, conhecemos o centro histórico e cultural, suas
ruas estreitas e as casinhas bonitinhas com a arquitetura alemã bem
característica. Conhecemos ainda a escultura “Os músicos de Bremen”, de um conto
dos irmãos Grimm, e mais tarde, para fechar, um autêntico almoço alemão .
Rever Rodrigo foi o único motivo de incluirmos a Alemanha em
nosso roteiro de viagem e como valeu a pena estar com ele e com Ninja! As
circunstâncias, o desconhecimento total da língua e o frio nos deixaram um
pouco desconfortáveis, mas nada que impeça de retornarmos ao país em uma outra ocasião.