"... tenho medo que as coisas nunca mudem"

Renascer das cinzas, como a Fênix.
Um tanto abandonado esse blog, hein? As inúmeras leituras do doutorado contribuíram significativamente para tal abandono e é justamente sobre esse tema que eu gostaria de divagar hoje. Não da desatualização do blog, nem do doutorado, mas delas: as mudanças! Sou fascinada por elas, nem tanto pelas grandes e inconsequentes, mas pelas pequenas e vitais... Na verdade, sou fascinada pela possibilidade de reinvenção que as mudanças trazem
Literalmente falando, em minha vida de estudante, fiz em torno de 8 mudanças, mas essas eram, em sua grande maioria, desagradáveis, pelo caráter de quase imposição que elas tinham. Quando comecei a trabalhar, as mudanças se transferiram para o ambiente de trabalho. A mais significativa foi a de pedir demissão de uma emprego sem ter outro em vista. Explico: quando trabalhava em uma escola rural de uma cidade vizinha, descemos barranco abaixo em um carro sem freio, por falta de manutenção. Em conversa posterior com o prefeito da cidade, ao final da minha reclamação, ele me alertou: se você não quiser o emprego tem quem queira! ... Pronto, ele deu o emprego para quem queria.
A última e mais radical mudança foi a volta à Campina Grande. Depois de três anos na Bahia, na casa dos pais, com todo o conforto que esse 'ninho' oferece, e com a vida profissional muito confortável, percebi que minha vida social andava em círculos e minha vida acadêmica havia estagnado. Senti um arrepio na espinha quando projetei minha vida profissional trinta anos à frente e percebi que ela seria exatamente como estava naquele momento. E o meu sonho do doutorado? Abandonaria de vez? E os conhecimentos que poderia adquirir em novos ambientes? Dispensaria sem culpa? E meu grande amor do passado e do presente, não lhe daria a chance de fazer parte do futuro? Enfim, voltei! E como essa mudança foi sofrida: deixei toda a minha família na Bahia... e esse rompimento foi ainda mais doloroso porque eu não passaria uma temporada longe para depois voltar, como fiz na época da graduação. Eu iria para morar, definitivamente, em uma cidade que fica a mais de 1.000 km de toda a minha família, das minhas raízes, dos meus amigos. Eu estava renunciando ao apoio incondicional que só quem tem o mesmo sangue correndo nas veias pode dar, a não acompanhar o envelhecimento dos meus pais, a não testemunhar seus piores e melhores momentos, a não ter aquela conversa de meias palavras que só o 'povo de casa' entende, a não me mostrar indefesa e desarmada, como a gente faz com os nossos. Saí da minha zona de conforto. Se sofri? Acho que a resposta é: ainda sofro! Mas arrependimento mesmo não senti, em nenhum momento. Muito pelo contrário, hoje tenho a certeza de que fiz a melhor escolha. Estou na fase mais plena da minha vida adulta. 
Afora essas mudanças drásticas, experimento pegar um ônibus diferente (o que às vezes me custa duas horas perdida e três vezes o valor da passagem rs), mudar de supermercado, nem que seja pra perceber que a mudança não foi uma boa ideia, reinvento o caminho, nem que seja pra descobrir que fiz besteira. E assim, tenho a sensação de que sou protagonista e não espectadora da minha própria vida. Faço as escolhas, mudo o caminho, acerto, quebro a cara, me arrependo, mudo as atitudes, desagrado, mas pelo menos tenho opções concretamente vivenciadas para me dar segurança na hora da decisão, para não lamentar depois o que eu deveria ter feito e não fiz por puro comodismo ou covardia.
E é dessa minha visão dinâmica de vida e desse meu desejo de querer melhorar enquanto ser humano que nasce o meu inconformismo com as pessoas que vivem 'o conformismo'. Inacreditáveis pessoas que vivem eternamente infelizes num emprego porque acham que 'não sabem fazer outra coisa na vida'; mulheres que não se libertam de um relacionamento que se tornou vergonhoso há décadas; jovens que chegam à fase adulta se gabando do quanto bebeu na noite, desfilando com o carro do pai e difamando as mulheres com quem se relacionou; adultos que se tornaram caricatura do jovem que foi outrora, idosos que se entregaram e definharam por causa de uma doença reversível... Talvez porque mudar dá medo e, principalmente, dá trabalho: "Na véspera de não partir nunca, ao menos não há que se arrumar malas" (Fernando Pessoa).
Para além da mudança exterior, há que se pensar no benefício da mudança interior. "Não nascemos prontos", construímos nossa personalidade ao longo dos anos e isso não impede que façamos ajustes. É preciso refletir (voltar-se para si) e observar o que de nossas repetidas atitudes está prejudicando a nós ou ao outro. Esconder-se no 'eu sou assim e não posso mudar' é umas das frases mais covardes que já ouvi. Não é fácil mudar, eu sei, é preciso muita disposição, coragem, e, acima de tudo, humildade, para perceber que os outros não têm a obrigação de me aceitar assim só porque eu julgo que o meu 'eu' agora é o melhor que tenho tenho para oferecer, e pior, que isso é irreversível. A mudança pode até ser desastrosa, mas o 'não tentar' é o maior dos desastres.